O segundo dados do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 2,4 milhões de pessoas foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população brasileira, destes (1,5%) são homens e (0,9%) mulheres.
O autismo é um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação e interação social, sendo que algumas dessas pessoas com TEA desenvolvem desempenho superior a média em áreas especificas matemática e artes. A união entre esses dois conceitos é complexa, muitas pessoas com TEA podem ter altas habilidades, mas nem todas apresentam essas características. Estudos indicam que uma pequena porcentual com autismo possuem altas habilidades, e a identificação dessas pode ser desafiadora, pois algumas características do autismo podem ser confundidas com superdotação. Sendo importante reconhecer e valorizar essas habilidades para promover o desenvolvimento,dizem especialistas.
Os dados divulgados do Censo 2022, são consideráveis, por isso é nesseçario ter uma olhar sensível para este público. Com intuito de buscar mais informações sobre a temática, Autismo e Altas Habilidades, o SiteBahiaNews.com entrevistou o Acadêmico de Medicina, Thalles Mariano que além de trazer informações médicas traz tambérm seu o relato pessoal, pois é diagnosticado com Autismo e Altas Habilidades.
Bahia News: Qual o significado de Autismo e altas habilidades?
Acadêmico Thalles Mariano: São apenas definições médicas ou diagnósticos técnicos, representam formas diferentes de enxergar e viver o mundo. O autismo traz uma maneira única de sentir, perceber os detalhes, se conectar com a rotina e com as emoções de um jeito próprio. Já as altas habilidades são como uma chama interna, um potencial que, quando lapidado, se transforma em dedicação, criatividade, memória e foco, juntos, não são uma limitação, mas uma forma única de ser, mas um convite para quebrar rótulos e mostrar que cada mente carrega um brilho que pode iluminar caminhos.
Bahia News: Como identificar a dupla excepcionalidade?
Acadêmico Thalles: A dupla excepcionalidade(A dupla excecionalidade refere-se à combinação de alta capacidade intelectual ou talento com uma deficiência ou dificuldade de aprendizagem), é, muitas vezes, silenciosa, pode passar despercebida porque as altas habilidades “mascaram” o autismo, ou porque este ofusca o olhar sobre os talentos. Identificá-la exige sensibilidade: perceber que uma pessoa pode ter dificuldades sociais, sensoriais ou de comunicação, mas, ao mesmo tempo, demonstrar uma capacidade extraordinária de aprender, criar, conectar ideias ou resolver problemas. É preciso olhar além do óbvio, com paciência e acolhimento, pois em geral, quem tem dupla excepcionalidade aprende e se expressa fora do padrão tradicional.
Bahia News: Qual importância do reconhecimento?
Acadêmico Thalles Mariano: O reconhecimento é libertador, descobrir que não somos apenas “diferentes”, mas que existe um nome, uma explicação e uma identidade por trás daquilo que sentimos, transforma a vida. O reconhecimento abre portas para apoio, compreensão e respeito, nos tira da solidão e do estigma, mostrando que não somos defeituosos, mas sim únicos. Para mim, foi como respirar fundo depois de muito tempo prendendo o ar: um alívio, uma aceitação e uma nova forma de enxergar a mim mesmo.
Bahia News: É possível ter viver com autismo e altas habilidades?
Acadêmico de Medicina Thalles Mariano: É possível porque a mente humana é complexa e surpreendente, O autismo não impede o desenvolvimento de habilidades extraordinárias, pelo contrário, muitas vezes ele potencializa áreas específicas do cérebro, criando uma intensidade rara no aprendizado, costumo dizer que é como ter um filtro: enquanto o mundo vê tudo de uma vez, a pessoa com autismo e altas habilidades enxerga em forma detalhada, de uma maneira que outros não percebem. É um desafio, porque o mesmo cérebro que gera dons incríveis também enfrenta dificuldades em outros aspectos, mas é justamente nessas diferenças que nasce a beleza da dupla excepcionalidade.
Bahia News: O senhor tem Autismo e Altas Habilidades?
Acadêmico de Medicina Thalles Mariano: Sim, tenho autismo e altas habilidades. E não digo isso com peso, mas com orgulho. Por muito tempo carreguei dúvidas, dores e o medo de não ser compreendido. Hoje, entendo que essa parte de mim não é um obstáculo, mas uma característica que moldou quem sou. Foi isso que me fez mergulhar nos livros, buscar conhecimento e também sentir as coisas de forma intensa. Eu não sou apenas o diagnóstico, sou a soma de tudo que vivi, aprendi e superei.
Bahia News: Como percebeu e como foi à aceitação?
Acadêmicode Medicina Thales Mariano: A percepção veio aos poucos, em pequenos sinais: a forma como eu estudava de maneira obsessiva, a maneira como o mundo parecia “alto” demais em sons e emoções, a dificuldade de me encaixar em padrões sociais, mas também a facilidade em aprender conteúdos complexos. No início, houve dor, porque aceitar o autismo significa olhar para nossas fragilidades, mas com o tempo percebi que não era sobre limitações, e sim sobre aprender a lidar com meu próprio jeito de ser. A aceitação foi um processo, e hoje posso dizer que ela trouxe a paz de viver sem máscaras.
Bahia News: O que muda em sua vida ?
Acadêmico de Medicina Thalles Mariano:Muda tudo, a forma como eu me enxergo e como me permito ser, antes, eu vivia tentando me encaixar em moldes que nunca serviram. Hoje, entendo meus limites, valorizo minhas forças e busco apoio onde preciso. Descobrir que tenho autismo e altas habilidades me deu clareza para organizar meus estudos, meus relacionamentos e autocuidado, como se eu tivesse recebido um mapa de mim mesmo, um guia para transformar minhas diferenças em potência.
Bahia News: Como médico qual sua análise em relação aos desafios e superação do Autismo e Altas Habilidades?
Acadêmico de Medicina Thalles Mariano: Como médico e alguém que vive isso, vejo que os maiores desafios estão no preconceito e na falta de compreensão, muitas vezes, a sociedade olha para o autismo apenas como dificuldade, e para as altas habilidades como algo isolado, sem considerar o conjunto. O desafio é equilibrar: cuidar da saúde mental, enfrentar crises de sobrecarga sensorial, e ao mesmo tempo não deixar que o talento se transforme em fardo. A superação vem com rede de apoio, acolhimento, ajustes no ambiente de estudo e trabalho. É uma caminhada diária, mas possível. E cada conquista, por menor que seja, tem um sabor imenso de vitória.
Thalles Mariano finalizou deixando uma mensagem para as pessoas que também tem Autismo e Altas Habilidades.
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Reportagem Ana Meire Dias
Foto Arquivo pessoal

